Quando em 1995 surgiu a Classmates, uma despretensiosa rede social conectando estudantes universitários americanos e canadenses, o mundo não tinha ideia do que estava por vir. Como uma instantânea dose de morfina, dezenas de novas redes acalentaram viciosamente as dores humanas causadas por lembranças, saudade e pelo irônico distanciamento social.
Era pra curtir, amar, compartilhar. Reaproximamo-nos ou conhecemos pessoas novas. Criamos comunidades, dividimos recortes das nossas vidas e até nos apaixonamos sem importar a distância. Dentre os mais conhecidos, superamos o ICQ, Orkut, mIRC, Myspace e Fotolog, porém, não há conexão afetiva que escape à crise.
Não é preciso mais do que política e religião para findar uma relação. Essas deveriam solucionar nossos problemas, mas ideologia e fé nunca nos colocaram do mesmo lado desde que surgimos da costela de Adão ou da biogênese; isso se uma nave não nos descartou aqui.
Ainda que nos últimos 100 anos tenhamos avançado exponencialmente em soluções tecnológicas, a frivolidade humana sabota todos os dias nossa evolução. O twitter, a partir de 2006, traçou as primeiras linhas da universalização da política de forma instantânea e, dois anos depois com o “Yes We Can” de Obama à eleição americana, nunca mais curtimos, amamos ou compartilhamos da mesma forma.
Manifestar sempre foi um ato das ruas, porém a televisão, rádio e impresso ocuparam as redes sociais e nós abdicamos a audiência passiva para, de forma célere e relevante, formatar uma nova interlocução. A disposição é ir muito além do que apenas participar das pautas, multiplicar ou discordar. Da condição de especialistas em qualquer coisa, nos tornamos doutos em tudo. Todo jornalista, ora preso a alguma linha editorial se vê “livre” e todos os envolvidos nesse esquema neural, se travestem de jornalistas.
Distorcer os fatos, nada tem a ver com liberdade de expressão. A obsessão pelo imediatismo descredibilizou muitos veículos de comunicação tradicionais, mas milhões de vozes comuns pelas redes sociais – apropriadas das vestes de comunicadores e influenciadores – trataram de alimentar vertentes narrativas sobre, em quem acreditar. Vivemos um estado de violação ética, ódio, idolatria, platonismo, aniquilação de reputações e entre fatos ou fakes, temos dúvidas sobre quem devemos ouvir.
Vivemos um estado de violação ética, ódio, idolatria, platonismo, aniquilação de reputações e entre fatos ou fakes, temos dúvidas sobre quem devemos ouvir.
A pandemia da covid-19 foi a combustão para nossa Guerra Moderna. Municiados com verdades ou mentiras, com crenças ou desapego, com coragem ou medo, com a dor ou egoísmo nos entrincheiramos atrás dos dispositivos mobiles em nossas batalhas psicológicas. Tornamo-nos impiedosos ou apenas externamos aquilo que sempre fomos?
Se é que vale qualquer incursão a esse respeito, precisamos mudar o status quo. Não se trata agora de quem devemos ouvir, considerando que essa nossa capacidade sensorial está comprometida. Diante do que evoluímos em tantas coisas, é contundente a constatação de que somos primitivos ao ouvir e racionalizar.
Empatia não é para ser uma palavra da moda, é a afeição que nos falta. A guerra que precisamos vencer não é contra o outro. Nossas batalhas exigem a coerência em fazer o mínimo para proteger a nós e aos nossos. Nossas forças devem estar focadas em nos reinventar. Na ausência de certezas e diante das crendices, neste compasso de espera devemos confiar na ciência. Antes de nos matarmos para defender qual douto ouvir, precisamos simplesmente sobreviver.
Jefferson Lobo é tradutor e intérprete, jornalista, especialista em Comunicação e Marketing, e Secretário de Comunicação Social de Cascavel (PR).
Mín. 18° Máx. 25°